BNCC: Da letra da lei em prática de ensino

Por Acedriana Vicente Vogel

A primeira pergunta que devemos fazer ao iniciar um percurso é: Qual o destino? Essa é a primeira grande virtude da BNCC – define aonde teremos que chegar. Porém, esse não é um documento de “navegação” para professor em sala de aula. Transformá-lo em prática de ensino é o nosso desafio até 2020, prazo de implementação da Educação Infantil e Ensino Fundamental.

Há uma série de países com reformas estruturais em andamento para melhorar o seu sistema educacional, ampliando as possibilidades reais de aprendizagem dos alunos. Portanto, isso não é um privilégio nosso, mas uma necessidade mundial. Talvez o que somente nós possamos explicar é o fato de aguardarmos quase três décadas por esse momento, afinal desde 1988 a Constituição Federal estabeleceu a necessidade legal da BNCC. Mesmo correndo contra o tempo, não podemos imaginar que o mais difícil já temos: a lei.

O grande desafio quando se inicia uma nova jornada é a dúvida de como chegar lá. Por isso, é fundamental a autonomia dos estados, municípios e escolas na construção das suas propostas, sempre atentos às possíveis distrações que o percurso pode oferecer, pois a segunda virtude da Base é definir com clareza o que os estudantes de cada etapa da escolarização devem aprender e o que devem ser capazes de fazer com o que foi aprendido. Isso é central para o trabalho de implementação, pois já houve um tempo em que o direito assegurado em lei era o acesso à educação. De maneira suave no PNE e intensa na BNCC, o direito assegurado agora é o de aprender. Portanto, de nada vale o ensino se não se converter em aprendizagem.

Sendo assim, é necessário que as propostas que serão colocadas em prática na sala de aula resgatem e considerem o que é condição para que a aprendizagem aconteça: só se aprende a partir do que já se sabe; não se aprende na indiferença, há necessidade de vínculo; é pessoal, não aprendemos por ninguém, portanto intransferível; precisa fazer sentido e ter significado em nossa estrutura cognitiva.

Para que todos esses pressupostos sejam considerados na prática de sala de aula há que se redesenhar o papel do professor. Se o estudante aprende somente a partir do que já sabe, cabe ao professor ser um especialista em diagnóstico cognitivo, considerando performances individuais na riqueza do trabalho coletivo, sem o qual as 10 competências gerais previstas na BNCC não teriam espaço para serem desenvolvidas. De posse dos diferentes diagnósticos, o professor precisa ser um construtor de percursos de aprendizagem. Além de ser, por excelência, um curador de conteúdos que serão os meios para o desenvolvimento das habilidades que expressam as aprendizagens essenciais para cada ano letivo.

Como operar essa revolução? O combustível se concentra no estudo compartilhado dos profissionais da educação. Por isso, a faísca que promoverá a combustão é a terceira virtude da BNCC: o reconhecimento do valor da tecnologia, aproveitando as rotinas da geração digital. Sem tecnologia, no mínimo, estaremos fadados a não operar com o volume e a velocidade que o nosso tempo exige. Um médico que se preze em nossos dias, jamais proporá uma intervenção sem a precisão que as tecnologias oferecem aos diagnósticos. Porque teríamos expectativa menor em relação a um profissional da educação?

 

Acedriana Vicente Vogel é diretora pedagógica da Editora Positivo.

Escola e aprendizado: Motivação para aprender, sempre!

 

Por Cleia Farinhas

Ao mesmo tempo em que constatamos que a facilidade de acesso à informação pode ser um ativo importante para impulsionar as pessoas em direção ao conhecimento, nos deparamos com notícias como as do Censo Escolar da Educação Básica 2017, que mostram uma preocupante redução no número de alunos matriculados no Ensino Médio, fato que nos leva a algumas reflexões sobre o papel da escola nesse cenário. O levantamento, divulgado pelo Ministério da Educação, aponta que 1,5 milhão de jovens ficaram fora da sala de aula no ano passado.

A imensa – muitas vezes, até incontrolável – oferta de informação online derrubou por completo a barreira que separava o indivíduo da informação e do conhecimento construído histórica e socialmente. Hoje em dia, qualquer pessoa pode aprender sobre qualquer assunto de seu interesse. Basta procurar para encontrar conteúdos impressos, digitais, gratuitos ou pagos. Diante disso, vemos um número muito alto de estudantes que acabam desistindo da escola nos últimos anos da Educação Básica.

O que aconteceu com a curiosidade, a vontade ou a necessidade tão humana de aprender pelas vias formais? Por que jovens, que deveriam estar cada vez mais entusiasmados diante de tantos incentivos, simplesmente parecem “desistir de aprender na escola”? Sabemos que fatores sociais e econômicos podem interferir – e muito – no caminho para a escolaridade, mas somente isso não basta para fechar essa questão.

Precisamos analisar o problema, lançando um olhar crítico sobre a forma como a educação vem se sustentando ao longo dos anos e o modelo de escola que oferecemos aos nossos estudantes. É certo que a educação formal e tradicional, que historicamente coloca o professor como protagonista e detentor absoluto dos conhecimentos, já não funciona para as novas gerações, acostumadas a obterem o que querem com apenas um click no mouse ou uma deslizada de dedo pelo celular. Fato é que a internet expandiu os horizontes e fez surgir, por força das circunstâncias, uma dinâmica diferente entre quem ensina e quem aprende.

Escolas e educadores que já perceberam essa mudança adaptam-se continuamente revendo seus papéis e atuando para construir uma escola mais inclusiva no que tange a metodologias e recursos de gestão de aprendizagem, sem esquecer de mobilizar a curiosidade e o apreço pelo aprender em um ambiente desafiador, sem perder o acolhimento. Uma boa dose de espanto e incredulidade pode influenciar positivamente a postura do estudante. Pensada sob essa perspectiva, a escola  ajuda a criar o interesse por meio de um processo – às vezes árduo, sabemos – de parceria entre os professores, alunos e suas famílias. É preciso assumir o compromisso de estar junto – e não à frente ou acima. Cabe a nós, professores, ajudar a construir pontes que aproximem cada vez mais crianças e jovens do conhecimento. Como fazer isso? Estimulando os meninos e meninas na busca por respostas a perguntas que não necessariamente tenham relação com o conteúdo de sala de aula. É preciso fazer com que ele se sinta desafiado a alçar voos longos – e o lugar certo para essa trajetória ser iniciada é a escola, que deve ser vista pelos alunos como um espaço permanente de acolhimento de pessoas e ideias.

Aprender depende, principalmente, de motivação e atitude. O estímulo surge quando algo nos provoca, incentiva e mobiliza. E tal mobilização pode ser conquistada quando se conseguir transformar a escola em um lugar que alimente o sonho e incentive a criação de um projeto maior, para a vida. Só assim nossos estudantes conseguirão se concentrar e enxergar que todo esse processo de construção do conhecimento vale, de fato, a pena.

imagem_release_1282264Cleia Farinhas é gerente pedagógica da Editora Positivo.

 

 

 

 

 

 

Imagem: ©Divulgação.

Os três pilares do aprendizado

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Por Cleia Farinhas

A educação brasileira passa por um profundo processo de transformação com a implantação da nova Base Nacional Comum Curricular. Precisamos estar prontos para este processo, ajudar nossos professores a fazer essa transição e oferecer a nossos alunos ensino de qualidade e alinhado com os novos tempos. Para cumprir essa missão, precisamos enxergar a educação do futuro levando em conta 3 aspectos importantes: segurança, pertinência e experiência.

O acesso às ferramentas tecnológicas que facilitam o consumo e propagação do conhecimento já chegou a todas as camadas sociais. A tecnologia não é mais vista como uma barreira para o conhecimento. E seu uso começa cada vez mais cedo. Pensando nisso, torna-se fundamental cuidar de nossas crianças. Quando permitimos que alunos, a partir dos 6 ou 7 anos, se aventurem em busca de conteúdo na internet, é o mesmo que deixarmos esses estudantes atravessarem sozinhos uma avenida enorme e movimentada sem levá-los pela mão. Como educadores, temos a responsabilidade de guiá-los, oferecendo um aprendizado seguro e de qualidade. Essa segurança só será garantida com conteúdos confiáveis, produzido por fontes que saibam aliar tradição e inovação.

Em momentos de transição, com a grade curricular sofrendo alterações, os responsáveis por gerar conteúdo devem ter em mente que os temas e materiais propostos devem ser pertinentes, perfeitamente alinhados com o momento e o novo perfil de estudante que temos em sala de aula. O mundo mudou, a forma de ensinar e interagir com o conhecimento também mudou. Os conteúdos que os alunos precisam aprender devem fazer sentido para eles. É preciso atribuir a esses materiais um significado prático, para que eles consigam responder ‘para que’ estão aprendendo aquilo, a fim de que estabeleçam vínculos entre escola e vida, enxerguem a relação entre conteúdos de diversas disciplinas e, com isso, aprendam, percebendo que a escola tem sentido.

E para cumprirmos de fato nossa missão, precisamos encarar o grande desafio que é promover uma experiência capaz de envolver o estudante. Estamos diante de uma nova geração de alunos, que aprendem de forma muito diferente de como se aprendia 10 anos atrás. É preciso entender a dinâmica dessa nova geração para organizar a aprendizagem de maneira que os estudantes se sintam incluídos e se identifiquem com os propósitos da escola, se envolvendo com o conteúdo. Cabe, portanto, a professores e gestores escolares a responsabilidade de entender este novo cenário e oferecer ao novo aluno uma experiência que promova o engajamento necessário para garantir um aprendizado efetivo e permanente.

Cleia Farinhas é gerente pedagógica da Editora Positivo.

 

Imagem: ©Reprodução.