Na sala de espera do pós-pandemia

Por Angela Biscouto

Como será a escola brasileira quando a pandemia passar? Estaremos melhor preparados caso novas pandemias apareçam no futuro, daqui a cinco ou 20 anos? É difícil não tentar adivinhar de que formas absorveremos os impactos e as lições deste momento tão complexo para a Educação brasileira. No entanto, em termos de Educação, nenhuma transformação é rápida ou indolor. As feridas abertas por tantas adaptações e tantas perdas ao longo do último ano ainda não estão sequer fechadas. Sua cicatrização é ainda um horizonte distante e será preciso pensar primeiro no presente que ainda persiste, antes de nos debruçarmos sobre o futuro hipotético.

É justo lembrar que nenhum dos problemas enfrentados hoje pelas escolas deste país é novo. O que a pandemia fez foi salientar as questões estruturais deficitárias com as quais a escola brasileira sempre conviveu. Principalmente – mas não apenas – a escola pública. E, mesmo dentro da escola pública, muitas realidades distintas se sobrepõem. Para quem trabalha com Educação, nada disso é novidade. No entanto, há mais de um ano esses problemas saltaram os muros das escolas e ficaram expostos ao restante da sociedade, que foi convocado a olhar para essas condições. A atual circunstância pode gerar dois tipos de reação: 1) reconhecer as imperfeições e tentar entender como é possível minimizá-las; ou 2) simplesmente apontar os erros, sem propor possíveis maneiras de repensá-los.

Um dos traços mais marcantes desta pandemia é a capacidade de nos fazer refletir sobre a impermanência de tudo aquilo que considerávamos garantido. Uma constatação, aliás, já preconizada por Zygmunt Bauman e sua modernidade líquida: a única constância é a inconstância. As respostas não são certas na vida contemporânea. Isso não se deve apenas à pandemia e se aplica a todos os aspectos de nosso cotidiano, inclusive à Educação.

Fala-se muito, há muito tempo, sobre revolução educacional. Dizem que é preciso mudar a Educação, que precisamos de grandes mudanças. Pois bem, essas grandes mudanças chegaram. Mas as grandes mudanças provocam incômodo, levam tempo e demandam muito trabalho. Isto posto, todos os elementos envolvidos na formação de nossos jovens precisam considerar essa condição. A formação docente precisa olhar para essas incertezas; a organização do espaço físico deve compreender possibilidades antes desnecessárias; a proposta curricular tem de identificar de que formas os diferentes saberes podem ser trabalhados em circunstâncias diversas. Embora a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) fale sobre isso, nunca antes foi tão urgente vivenciar essas reflexões para que a escola esteja cada vez mais consonante com a multiplicidade que se apresenta.

Nesse cenário, construir políticas públicas é parte de um processo muito mais profundo. Nossas crianças apresentarão marcas deste período que estão passando fora da escola. Então, qualquer esforço precisará contemplar essas cicatrizes. Quanto mais autonomia a escola tiver para lidar com suas próprias necessidades, melhor. Na pesquisa Vozes Docentes, realizada pela rede Conectando Saberes, 97% dos professores afirmam que gostariam de participar da construção de políticas públicas de seus municípios. Isso acontece porque há questões que são muito particulares de cada um dos rincões do Brasil. Há que se rever pontos como merenda escolar, transporte, permanência desses alunos na escola. Não se trata apenas de evitar que eles evadam ou que percam um ou dois anos letivos, mas, principalmente, de garantir uma aprendizagem efetiva e de qualidade. Antes de desenhar políticas para uma futura pandemia, é fundamental olhar para a pandemia atual. Tentar entender que segmentos da legislação e da documentação escolar não cabem em uma escola que se depara com o inesperado e, assim, agir juntos, como sociedade, para melhorar essas especificidades.

É uma característica da Educação desconstruir-se e reconstruir-se continuamente. Por isso, uma das maiores armadilhas neste momento é imaginar que, quando tudo passar, nossos alunos voltarão a viver a escola que viviam antes de 2020. Aquela escola não existe mais. Talvez o mais importante seja entender que o que estamos vivenciando não é uma sala de espera para um futuro pós-pandêmico, mas uma realidade concreta. Havia um jeito de educar antes da pandemia, há um jeito de educar agora e haverá um terceiro jeito de educar no amanhã.

Talvez seja preciso entender que, caso essa situação se repita no futuro, novamente não saberemos como agir. Porque seremos outros, o cenário será outro. E, se não podemos preparar uma mochila de emergência, podemos estar mais abertos a uma escuta ativa, um olhar comprometido, uma escolha atenta e verdadeiramente empática. Essa atitude pode servir para uma próxima pandemia, mas também para receber os alunos de volta amanhã ou depois. Se, como disse Bauman, não há certezas, precisamos estar preparados para agir com o coração pleno, mesmo na incerteza.

Angela Biscouto é consultora pedagógica do Sistema de Ensino Aprende Brasil.

Foto: ©Max Vakhtbovych/Pexels.

Retorno às aulas presenciais, e agora?

Por Viviane Schueda Stacheski

Além de todas as incertezas, mudanças, insegurança e medo que o momento atual gerou em grande parte da população mundial, os pais de alunos com idade escolar enfrentam outro dilema nesse início de ano – aula presencial: sim ou não? Decisão difícil a ser tomada imbuída de presenciar o cansaço dos pequenos em estarem em casa e a longa espera para voltarem à escola.

Da mesma forma encontram-se as escolas que novamente se adaptam aos impactos que a sociedade impõe. Marcar os espaços para distância segura recomendada pelo órgão de saúde, calcular quantos alunos podem permanecer em sala de aula, organizar o rodízio de presença na escola, aferir temperatura, clamar pelo uso de álcool em gel e lavagem constante das mãos, vigiar para que não haja contato físico entre as crianças, estes entre tantos outros cuidados passaram a fazer parte da nova rotina.

As escolas neste início de ano tiveram que dar espaço, em suas semanas pedagógicas, para a discussão acerca da prevenção à saúde de toda a comunidade escolar. Além de planejarem as atividades anuais, semestrais, semanais e diárias minuciosamente, pois todo planejamento teve que ter previsões para o que ocorre presencialmente na escola e presencialmente nos lares dos alunos. O ensino híbrido, discutido a tanto tempo nos ambientes de educação, passou a ser realidade em todas as escolas e famílias, gerando ainda mais a certeza de que o aprender se faz em todos os espaços.

Não há dúvidas de que o espaço escolar não é apenas o local para formalizar o conhecimento, é também o local em que se aprende com a interação com as outras crianças e toda a equipe de educadores, mas será que as crianças saberão se portar diante do novo “normal”? Para que possam frequentar a escola presencialmente precisam saber que além de cuidar do lápis e borracha novos, precisam cuidar das máscaras. Sim, agora temos um outro artigo que faz parte do vestuário diário obrigatório, mas este, diferentemente dos demais, requer muita atenção e cuidado. Logo, as famílias e escola agora também ensinam como colocar e tirar a máscara, onde armazenar a que já foi usada e onde encontram-se as limpas.

Enquanto isso os professores se desdobram em cuidados e preocupações. Cuidado com a saúde e aprendizagem dos seus alunos, porém diante de duas realidades: os que estão presencialmente em sala de aula e os que acompanham tudo por meio digital de suas casas. Cabe, então nos perguntar, como está a saúde física e emocional do professor? Quem tem olhado por ele? Indagações para as quais não temos respostas, mas nos cabe a reflexão acerca da sobrecarga emocional e psicológica dos profissionais de educação com a certeza de que merecem todo respeito e apoio ao seu fazer pedagógico.

A única certeza que temos é de que, por enquanto, a escola do abraço dos amigos e dos professores, da troca de lanche na hora do recreio, das brincadeiras em que os corpos ficam próximos, da apresentação no auditório com todos os alunos presentes, entre tantos outros momentos afetivos que ela nos promove, ficarão na memória e permanecem na esperança de que isso tudo possa fazer parte novamente do cotidiano escolar.

Viviane Schueda Stacheski é professora do curso de Pedagogia do Centro Universitário Internacional Uninter.


Foto: ©Janko Ferlic/Pexels.

Por que não ao homeschoolling

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Por Luciana Carolina Santos Zatera

A primeira é que o ambiente familiar já é um espaço educativo onde ocorrem (ou pelo menos deveriam ocorrer) importantes aprendizagens de cunho cultural, como valores, costumes, tradições, ensinamentos religiosos (ou a negação desse ensinamento), próprios de cada família. Além disso, é nesse ambiente que também acontecem os aprendizados de caráter afetivo: a maneira como lidamos com as emoções ou como as relações de afeto são construídas.

Sendo assim, a criança tem o direito de ter contato com outro tipo de educação, como aponta Libâneo: a formal (acadêmica, escolar). Por meio dela, terá a possibilidade de conhecer outras culturas, outros valores, outras tradições, a partir da experiência e não apenas pelos livros ou acesso digital. Nesse percurso, vai encontrar pessoas com as quais não têm a mesma relação afetiva e isso é fundamental para aprender a lidar com as diferenças e para seu crescimento emocional.

Se, por exemplo, a criança é superprotegida ou mimada e lhe faltam limites, o ambiente escolar – onde é preciso seguir regras, respeitar o espaço coletivo e, principalmente, respeitar ideias diferentes às suas – é fundamental para o seu crescimento saudável. Privar as crianças do acesso ao ambiente escolar é querer formar adultos com carência de aprendizagem mediada. A pedagogia da mediação é um tema tratado por Feurstein e diz respeito ao professor mediador, que é capaz, inclusive, de auxiliar os alunos a superarem essa carência de mediação, muitas vezes, fruto de lacunas da aprendizagem familiar.

A segunda razão e, para mim, a mais importante, é que, ao legitimar o ensino domiciliar como uma opção para todas as famílias brasileiras, afirma-se que não é preciso formação acadêmica para a profissão docente. Isso é muito grave. É como considerar que posso exercer a Medicina, o Direito, a Engenharia, a Odontologia sem nenhum tipo de formação específica para isso. Legitimar a educação domiciliar é retroceder historicamente ao pensamento grego antigo, que acreditava ser a didática a arte de ensinar e que, para isso, bastava ter nascido com esse dom.

Para a Didática moderna, pós-Comenius, o professor não nasce professor, torna-se professor por meio de formação acadêmica e profissional para o magistério (em cursos de licenciatura, especialização, mestrado, doutorado) e também a partir de outros saberes, como os da prática, os pessoais, os provenientes dos materiais didáticos etc., conforme constata Tardif. Assim, como os pais que não possuem formação específica para a licenciatura poderão elaborar planos de ensino, traçar objetivos, escolher métodos e avaliar? Sem essa formação, eles conhecerão com profundidade as teorias sobre desenvolvimento infantil, aprendizagem e mediação? Além disso, como garantir a aprendizagem que muitas vezes se dá entre as próprias crianças no ambiente escolar, nas trocas entre pares? E ainda, é possível o domínio pelos pais dos conteúdos específicos de cada um dos componentes curriculares, como Língua Portuguesa, Matemática, Geografia, História, Química, Física, Biologia? Os defensores da educação domiciliar poderiam argumentar: “mas atualmente, a informação está à disposição para todos na web”. Sim, isso é verdade e esse “mar de informações” pode e deve ser usado em casa, por meio de pesquisas e conversa com os pais, o que, inclusive, pode ser levado à discussão em sala de aula para partilhar o conhecimento com os demais colegas.

O acesso à informação não garante que o ensino domiciliar será melhor ou mais adequado do que o escolar. Aliás, o que vemos são crianças usando celulares, tablets e computadores em excesso em suas casas, muitas vezes, sem nenhum tipo de monitoramento dos pais. Essas crianças, ao menos na escola, têm a oportunidade de se relacionarem, conversarem, brincarem, porque, em casa, ficam horas atrás de uma tela e mal conversam com os pais.

A terceira razão, não menos importante, deve-se ao fato de a educação domiciliar não ser um projeto que atenda às necessidades reais dos problemas da educação brasileira. Dados do Censo 2018 apontam mais de 39 milhões de matrículas em escolas públicas de Educação Básica, enquanto na rede privada são em torno de 9 milhões de estudantes. Somente por esses dados é possível afirmar que as instituições públicas atendem à maior parte de crianças e adolescentes em idade escolar. São, portanto, filhos e filhas de trabalhadores, que dependem da escola gratuita para terem acesso à educação formal. Dessa forma, o projeto de educação domiciliar é excludente e privilegia pequena parte da população. O Projeto de Lei que busca regulamentar o ensino domiciliar elenca como uma das justificativas a essa modalidade o fato de os pais desejarem preservar seus filhos da violência, bullying e drogas, problemas existentes no ambiente escolar. Fica a questão: seria essa uma forma de o governo se eximir da responsabilidade desses problemas que assolam as instituições de ensino do país?

A quarta razão se constitui em um grande questionamento: o governo brasileiro está preparado para regulamentar o ensino domiciliar, visto que vem demonstrando fragilidades no que diz respeito a projetos efetivos que visem à melhoria da qualidade de ensino, principalmente na Educação Básica?

É preciso gastar tempo, energia e recursos com o que é urgente: valorização da profissão docente, por meio de investimentos à formação inicial e continuada e aumento da qualidade de condições de trabalho do professor; suporte físico às escolas; salas de aula equipadas e com menos alunos por turma; bibliotecas e laboratórios amplos; implementação de projetos inovadores, que ultrapassem de fato as salas de aula tradicionais, com alunos enfileirados e sentados por quatro horas; e espaços de aprendizagem colaborativos, que incentivem pesquisa, projetos e grupos de estudo.

 

Luciana Carolina Santos Zatera é licenciada em Letras e em Pedagogia. Mestra em Educação. Professora na Escola Superior de Educação do Centro Universitário Internacional Uninter.

Como estimular os alunos em sala de aula?

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A psicopedagoga Regina Lima explica quais técnicas de aprendizagem os professores podem propor na sala de aula para estimular seus alunos. Segundo ela, é possível dizer que, além de faixas etárias distintas, diferentes áreas do ensino também podem ser suportadas positivamente pela utilização de diagramas, instrumentos, experiências vivenciais, músicas e técnicas que torne lúdico e positivo tanto o processo de aprendizagem quanto o de memorização.

“O Mapa Mental é um exemplo das técnicas que podem ser utilizadas. Ele é um diagrama criado por um psicólogo como suporte à gestão de informação, memorização e solução de problemas. Apesar de originalmente estar associado à prática e às escolas de administração, é possível aplicar seus conceitos em salas de aula regulares, com crianças de todas as idades”, diz Regina Lima.

A especialista diz ainda que os mapas mentais podem ser úteis em diferentes processos de aprendizagem. “A técnica pode ser usada para a fixação da linguagem escrita, o ensino e visualização de fatos históricos, além de fornecerem aos alunos uma maneira natural de pensar e construir pensamentos sobre diferentes temas”, explica a psicopedagoga.

Outras ferramentas e técnicas – Regina Lima ressalta que além das experiências ao ar livre, com música, jogos simples e da utilização do lúdico, algumas técnicas devem ganhar espaço nas salas de aula nos próximos anos. “A sala de aula invertida é uma delas. Esse método de ensino subverte o ambiente de aprendizado tradicional ao fornecer conteúdo que mistura ações dentro e fora da sala de aula. São geradas atividades, que podem ter sido tradicionalmente consideradas tarefas de casa e elas são parte de um processo finalizado dentro da sala de aula, dando protagonismo aos alunos no debate e geração de ideias”, propõe a especialista.

A psicopedagoga cita ainda o Design Thinking, que, de acordo com ela, pode ajudar em elementos como colaboração e competição. Outro artifício proposto por Regina Lima é a Gamificação, que tem como objetivo motivar os alunos a aprender usando elementos de jogos no processo de aprendizagem.

“O objetivo é maximizar o prazer e o envolvimento, capturando o interesse dos alunos e inspirando-os a continuar aprendendo através da competição ou colaboração na busca de pontos e realização de tarefas. Por fim, vale lembrar os Métodos Blended, que se utilizam de recursos digitais e tradicionais, com ações executadas dentro e fora da sala de aula, de maneira orquestradas por um professor e, eventualmente, um assistente facilitador”, destaca Regina Lima.

Benefícios dos modelos – Regina Lima afirma que propor e utilizar novos modelos acessa áreas diferentes do cérebro de crianças e adolescentes, maximizando as chances de atingir a forma ideal de aprendizagem de cada um. “A Junior Coders, uma organização não governamental americana, afirma que apenas 25% das escolas ensinam a programar, embora 90% dos pais digam que gostariam que seus filhos tivesse essa habilidade. O uso de técnicas diferenciadas e a inserção de novas formas de ensinar serão fundamentais para um mundo que não para de mudar”, ressalta a psicopedagoga.

 

Foto: ©Nicole Honeywill on Unsplash.

Por que se pratica o bullying?

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Por Rosemeri Linhares

O que passa na cabeça de alguém que transfere suas mágoas e tristezas para os outros? Precisamos investigar cuidadosamente o que leva um ser humano a querer humilhar, expor, ofender, ridicularizar e agredir o outro. É essencial repensar o mundo em que vivemos atualmente, onde quase tudo é permitido. Será a negligência dos pais ou o olhar mais atento das escolas que fazem com que o bullying seja praticado tão frequentemente?

Os pais, professores e a sociedade estão, na maioria das vezes, voltados para questões da vida cotidiana que não percebem as mudanças nos filhos e nos alunos. Acredite, o local de maior incidência de bullying é na escola. Quem o pratica demonstra o que sente, sofre ou sofreu, muitas vezes sem perceber. Se a criança, adolescente ou adulto se considera desprezado em seu ambiente familiar, vai demonstrar seu desprezo também fora desse meio.

Normalmente isso ocorre quando a angústia sentida não tem espaço para ser discutida e solucionada em casa, gerando uma insatisfação interior. Na maioria das vezes, por não saberem lidar com sua aflição, acabam não se colocando no lugar do outro e não percebem a dor que causam. Entendemos que o indivíduo que pratica o bullying está angustiado e necessita de ajuda tanto quanto aquele que padece com o ato. É necessário analisar essa situação cuidadosamente, buscar a solução de algo que provoca tanto mal a quem pratica e a quem sofre.

Tanto as vítimas quanto os agressores podem ter consequências psicológicas sérias por causa do abuso. Porém, normalmente nossa atenção se volta apenas para quem pratica o bullying. Quando acontece em ambiente escolar, gera ansiedade, falta de motivação para estudar e acarreta sérios prejuízos à aprendizagem. É interessante mencionar que estudos revelam que normalmente os agressores são crianças com maior porcentagem de reprovação.

Por este motivo, pais e professores precisam estar atentos e ao perceberem sinais de sofrimento em crianças e adolescentes, devem buscar ajuda e, principalmente, dialogar sobre o que elas estão sentindo.

Rosemeri Linhares é pedagoga Especialista em Educação Infantil e Séries Iniciais.

 

Foto: ©Caleb Woods on Unsplash/Divulgação.

Por que é tão importante termos professores infantis formados em Pedagogia?

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Por Marta Maria Pasquale Mancini

Educar uma criança representa uma missão das mais complexas, e perpassa todas as fases do seu desenvolvimento. As conexões neuronais se estabelecem nos primeiros anos de vida e a Educação Infantil precisa ser planejada e comprometida com a ludicidade, a afetividade e o cuidado. A conciliação desses elementos assegura um desenvolvimento saudável, que se refletirá no decorrer de toda a trajetória acadêmica e pessoal da criança – que, sempre é bom lembrar, um dia se tornará adulto.

Porém, no Brasil, ainda não valorizamos a formação dos profissionais que exercem essa tarefa de tamanha responsabilidade. Na cidade de Sumaré, no interior de São Paulo, quase 8% dos professores que atuam em creches têm apenas o ensino fundamental, enquanto 73% têm Ensino Médio, segundo dados do Censo Escolar 2018. Apenas 18% deles concluíram a graduação. Em nível nacional, a situação se mantém. Segundo o Ministério da Educação, 24,3% dos professores de educação infantil não tinham diploma de ensino superior em 2017.

Para tentarmos compreender este quadro, é importante pensar que a formação inicial dos professores da educação infantil se edifica, se inscreve e se constrói de uma forma bastante complexa. Envolve aspectos históricos, políticos, sociais e educacionais que se cruzam com as concepções que insistem em perdurar no que se refere ao atendimento às crianças pequenas e, desse modo, com a configuração de desenhos formativos para estes profissionais.

Embora o Brasil esteja amparado por políticas públicas específicas, ainda observamos que perdura o entendimento de que, criança, nesta idade, só precisa de uma cuidadora ou de uma babá, o que nos remete à lembrança da “maternagem”. Para muitos, a criança não é reconhecida como um sujeito que precisa ser estimulado adequadamente para ter um bom desenvolvimento; basta ter alguém que fique com ela, evitando que se machuque e atendendo às suas necessidades imediatas.

Essa concepção, no entanto, está longe de espelhar a realidade. A primeira infância, afinal, é a base que sustenta inteiro o edifício da nossa existência. Nessa etapa, ao realizar atividades aparentemente triviais, como brincar, a criança adquire habilidades importantes (como empatia, e capacidade de seguir regras), se desenvolve emocionalmente e neurologicamente (trabalhando a atenção, memória, capacidade de fazer conexões etc.).

Assim, longe de ficar restrita à espontaneidade ou aos instintos de profissionais que não receberam a devida formação, a educação Infantil precisa ser bem planejada, conduzida por profissionais experientes e qualificados.  O profissional licenciado em Pedagogia é capacitado para atuar, seja na sala de aula de Educação Infantil ou nas creches, de forma a construir, gradativamente e por meio do lúdico, o amadurecimento cognitivo da criança.

Em nosso país, o direito à Educação Infantil representa um campo relativamente novo, que ainda precisa ser conhecido, observado, valorizado. Precisamos batalhar pelo entendimento de que investir na formação profissionais que atuam nessa etapa é questão de interesse nacional. Com professores melhores para as crianças de hoje, os adultos de amanhã estarão mais bem preparados, capazes de constituir uma geração mais autônoma, capaz de impulsionar o desenvolvimento de que nosso país tanto necessita.

 

Marta Maria Pasquale Mancini é pedagoga, psicopedagoga educadora sexual e coordenadora do Curso de Pedagogia do UNISAL (Unidades Americana e Campinas).

 

Foto: ©Jessica To’oto’o on Unsplash.

BNCC: Da letra da lei em prática de ensino

Por Acedriana Vicente Vogel

A primeira pergunta que devemos fazer ao iniciar um percurso é: Qual o destino? Essa é a primeira grande virtude da BNCC – define aonde teremos que chegar. Porém, esse não é um documento de “navegação” para professor em sala de aula. Transformá-lo em prática de ensino é o nosso desafio até 2020, prazo de implementação da Educação Infantil e Ensino Fundamental.

Há uma série de países com reformas estruturais em andamento para melhorar o seu sistema educacional, ampliando as possibilidades reais de aprendizagem dos alunos. Portanto, isso não é um privilégio nosso, mas uma necessidade mundial. Talvez o que somente nós possamos explicar é o fato de aguardarmos quase três décadas por esse momento, afinal desde 1988 a Constituição Federal estabeleceu a necessidade legal da BNCC. Mesmo correndo contra o tempo, não podemos imaginar que o mais difícil já temos: a lei.

O grande desafio quando se inicia uma nova jornada é a dúvida de como chegar lá. Por isso, é fundamental a autonomia dos estados, municípios e escolas na construção das suas propostas, sempre atentos às possíveis distrações que o percurso pode oferecer, pois a segunda virtude da Base é definir com clareza o que os estudantes de cada etapa da escolarização devem aprender e o que devem ser capazes de fazer com o que foi aprendido. Isso é central para o trabalho de implementação, pois já houve um tempo em que o direito assegurado em lei era o acesso à educação. De maneira suave no PNE e intensa na BNCC, o direito assegurado agora é o de aprender. Portanto, de nada vale o ensino se não se converter em aprendizagem.

Sendo assim, é necessário que as propostas que serão colocadas em prática na sala de aula resgatem e considerem o que é condição para que a aprendizagem aconteça: só se aprende a partir do que já se sabe; não se aprende na indiferença, há necessidade de vínculo; é pessoal, não aprendemos por ninguém, portanto intransferível; precisa fazer sentido e ter significado em nossa estrutura cognitiva.

Para que todos esses pressupostos sejam considerados na prática de sala de aula há que se redesenhar o papel do professor. Se o estudante aprende somente a partir do que já sabe, cabe ao professor ser um especialista em diagnóstico cognitivo, considerando performances individuais na riqueza do trabalho coletivo, sem o qual as 10 competências gerais previstas na BNCC não teriam espaço para serem desenvolvidas. De posse dos diferentes diagnósticos, o professor precisa ser um construtor de percursos de aprendizagem. Além de ser, por excelência, um curador de conteúdos que serão os meios para o desenvolvimento das habilidades que expressam as aprendizagens essenciais para cada ano letivo.

Como operar essa revolução? O combustível se concentra no estudo compartilhado dos profissionais da educação. Por isso, a faísca que promoverá a combustão é a terceira virtude da BNCC: o reconhecimento do valor da tecnologia, aproveitando as rotinas da geração digital. Sem tecnologia, no mínimo, estaremos fadados a não operar com o volume e a velocidade que o nosso tempo exige. Um médico que se preze em nossos dias, jamais proporá uma intervenção sem a precisão que as tecnologias oferecem aos diagnósticos. Porque teríamos expectativa menor em relação a um profissional da educação?

 

Acedriana Vicente Vogel é diretora pedagógica da Editora Positivo.

O Coordenador Pedagógico como articulador do Projeto Político Pedagógico e a contribuição da Pedagogia Freireana para sua prática

 

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Por Marcia Gaddini

Ao pensarmos nas questões sobre o aperfeiçoamento da ação do coordenador pedagógico, a partir das contribuições da Pedagogia Freireana, se faz necessário compreender, dentre outros fatores, qual é o sentido da Pedagogia para Freire.

Danilo E. Streck, no Dicionário Paulo Freire, esclarece que não há uma pedagogia única, existe diversidade de formas atreladas aos momentos e contextos, o que implica no diálogo verdadeiro sobre a prática, a partir da vivência e da experiência, entendido como elemento para a formação na dinâmica dialética.

A necessidade formativa inicial e o desejo de aprender continuamente devem fazer parte das prioridades do professor na evolução da carreira, sobretudo quando o mesmo ambiciona tornar-se coordenador pedagógico. Portanto, o educador não deve apenas aceitar a realidade que se apresenta, mas também buscar maneiras de ir além, de buscar o conhecimento do outro, de oportunizar o desenvolvimento a partir da consciência desse conhecimento, possibilitando a transformação das adversidades do cotidiano. Este não deve conformar-se com a aceitação da realidade que se apresenta, mas sim apresentar formas de busca do conhecimento, de oportunizar o desenvolvimento a partir da consciência desse conhecimento, possibilitando a transformação das adversidades apresentadas nos desafios cotidianos.

Mais do que uma ciência que trata da educação, a Pedagogia é um conjunto de métodos que assegura ajuste de conteúdo. A partir dos ensinamentos de Freire podemos refletir sobre o processo de ensinar, que implica o de aprender e vice-versa, envolve a paixão de conhecer que nos insere numa busca prazerosa, ainda que nada fácil.

Para Paulo Freire antes de ensinar é preciso aprender. O bom aluno e o bom professor passam pela mesma necessidade da compreensão do aprender. Em Pedagogia da Autonomia, Freire estabelece relações sobre o ensinar. Ensinar exige conhecimento não apenas técnico, mas conhecimento das relações humanas, respeito ao próximo e amorosidade, reforçando a capacidade crítica do educando como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos.

Segundo Freire, ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua produção. Sua concepção de educação libertadora tem uma visão humanista crítica, estuda-se o ser humano que aprende como um todo, sendo assim não podemos pensar apenas na dimensão cognitiva.  Não são considerados apenas conhecimentos, mas também escolhas e atitudes por meio de uma Educação dialógica ao pensar crítico diante de sua realidade.

Ao refletir sobre a formação do professor e os desafios da contemporaneidade, a mestre em Educação Joanete explicita de modo claro pontos referidos na pedagogia freireana, que versam sobre princípios e responsabilidades profissionais frente às questões adversas que enfrentamos cotidianamente, como a autora apresenta no trecho a seguir:

“Ser professor, na sociedade brasileira atual, é algo bastante complexo, pois o professor precisa ficar atento aos riscos que o contexto histórico lhe impõe, reduzindo por vezes, o conhecimento, ou seja o ‘saber’ ao ‘saber fazer’, por meio de técnicas, muitas vezes apoiadas em um discurso ideológico, pretensamente democrático. […]. É nessa sociedade marcada pelas desigualdades, que a necessidade de uma leitura crítica de mundo, que permita assumir a educação, enquanto direito cultural e não como produto do mercado, se impõe. Assim, não se pode perder de vista, na construção de uma identidade docente, o humano e o profissional”.

O Projeto Político Pedagógico (PPP) na escola é a referência documentada dos processos educativos discutidos, tal documento respalda determinadas decisões a serem tomadas pelo coletivo escolar, mas é importante ter entendimento do mesmo, com a interpretação à luz de um educador com a concepção ideológica crítica, assim sob o olhar da Pedagogia Freireana o PPP será uma referência dinâmica e viva.

Para que um Coordenador Pedagógico possa iniciar a reflexão sobre suas ações a serem desenvolvidas no contexto escolar, é necessário que tenha conhecimento do documento que define a identidade, embasa as ações e concepções, e indicam caminhos para o processo de ensino-aprendizagem.  Segundo a Pedagoga Prof.ª Dr ª Ana Maria Saul, na perspectiva freireana, currículo é a política, a teoria e a prática do que fazer na educação, no espaço escolar e nas ações que acontecem fora desse espaço, numa perspectiva crítico-transformadora.

Consideramos projeto por reunir as propostas de ação dentro de um determinado período de tempo; político por considerar a escola como um espaço de formação de educandos conscientes e críticos; pedagógico por organizar as atividades educativas imprescindíveis ao processo ensino-aprendizagem, documento este que indica caminhos a seguir para direção, coordenação pedagógica, alunos, familiares e demais funcionários de apoio.

Portanto, o Projeto Político Pedagógico contempla muito mais do que procedimentos: um projeto bem elaborado não deixa imprecisões sobre esse caminho; precisa ser flexível para se adaptar às necessidades de aprendizagem dos alunos; um projeto “vivo e real” que não fica “guardado”, mas ativo e inacabado, pois no decorrer do ano novas propostas vão permeando o fazer pedagógico e transformando-se em um novo projeto para ser apresentado no ano seguinte. Logo, o PPP é o exercício de elaboração do saber pedagógico para orientar a prática, não definitivo, é dinâmico e em contínua construção.

 

Marcia. Gaddini FTD pngMarcia Gaddini é Consultora Educacional da FTD Educação, mestranda em Educação – Formação de Formadores – PUC SP, trabalha e pesquisa sobre a formação inicial e continuada de profissionais da Educação. Especialista em Psicopedagogia pela Faculdade Oswaldo Cruz e Licenciada em Pedagogia com Habilitações em Administração Escolar e Orientação Educacional / Vocacional pela Faculdade Campos Salles. Atua há 20 anos na área educacional como docente em todos os segmentos da Educação Infantil ao Ensino Superior; também foi Coordenadora Pedagógica em Colégio Confessional em São Paulo.

Imagem: ©Divulgação.